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Como regras mais apertadas da B3 podem ter evitado efeito GameStop no Brasil

3 mins
Atualizado por Paulo Alves

EM RESUMO

  • Papeis da IRB Brasil subiram 17% após reunião de investidores individuais no Telegram.
  • Grupo pretende seguir passos do Reddit no caso GameStop.
  • Subida, no entanto, ainda está longe do alvo - e B3 pode ser 'culpada'.
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As ações da IRB Brasil subiram 17% após investidores se reunirem no Telegram, mas a B3 pode ter atrapalhado os planos de liquidar vendidos.

A resseguradora IRB Brasil foi destaque do mercado de ações no Brasil na última quinta-feira (29). O bom resultado veio após milhares de investidores se reunirem para combinar a compra em massa das ações da empresa. A ideia era seguir o exemplo do Reddit no caso GameStop dos EUA. No entanto, o desempenho na bolsa brasileira ainda ficou longe de provocar um short squeeze.

Um short squeeze se dá quando um preço dispara repentinamente a ponto de liquidar posições vendidas de um determinado ativo. Nos EUA, por exemplo, investidores de varejo se organizaram no Reddit para comprar papeis da rede de lojas de games GameStop na tentativa de liquidar posições de grandes hedge funds que apostavam na baixa. Ao menos um fundo teria decretado falência após o episódio.

Enquanto isso, no Brasil, um grande volume de supostos investidores de varejo se juntou em grupos do Telegram para organizar uma ação parecida. A beneficiária escolhida foi a IRB Brasil, cujos papeis despencaram mais de 80% em 2020. Na manhã desta sexta-feira (29), os três maiores grupos no app de mensagens reuniam quase 60 mil membros.

Subida ainda está longe de alvo

Chats trocados nos grupos revelam que o alvo dos investidores para a IRB Brasil seria de R$ 40 por ação. Além de coordenar a compra coletiva, os usuários teriam entrado em acordo para colocar ordens de venda apenas nesse preço. Isso porque, entre os participantes, há quem diga ser acionista da empresa. A intenção, portanto, seria fazer o papel recuperar boa parte do valor perdido no último ano.

O objetivo, no entanto, ainda está longe de ser alcançado. Na quinta-feira, os papeis da IRB chegaram a atingir R$ 7,67, alta de mais de 17% em um dia. Já no fechamento da sexta, as ações recuaram para R$ 7,20. O desempenho, portanto, ficou muito aquém do alvo e muito menos do fenômeno americano.

B3 pode ser ‘culpada’

Divulgação/B3

Uma das razões poderiam estar nas regras da própria B3. Segundo aponta o Valor, a empresa que fornece infraestrutura para a bolsa brasileira opera de maneira muito diferente da Nasdaq nos EUA. A B3 tem controle sobre negociação, liquidação e custódia, por isso consegue visualizar o cenário geral do mercado para evitar manipulações.

De um lado, as regras impediriam posições vendidas exageradas. Segundo as normas da B3, apenas 20% dos papeis da empresa podem ser alugados para shorts. Além disso, apenas 5% dos investidores podem se posicionar dessa forma. Nos EUA, por outro lado, não há restrições para aluguel de ações. No caso da GameStop, o volume teria alcançado 125% dos papeis em circulação.

De outro lado, há uma limitação similar no mercado de derivativos. Dessa maneira, a B3 evita “posições vendidas” por meio de emissões de contratos de compra (call).

As regras contra manipulação de mercado são um dos motivos que levam os investidores do short squeeze da IRB para meios de comunicação anônimos. No Telegram, não é obrigatório compartilhar o número de celular para participar de grupos.

No entanto, muitos usuários ainda deixam nomes e fotos expostos, incluindo de empresas, o que poderia facilitar a identificação em uma eventual apuração da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que já avisou que short squeeze é ilegal.

Caso IRB Brasil

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Divulgação/IRB Brasil

As ações da IRB Brasil começaram o ano com preço na casa dos R$ 44 a unidade. A primeira queda brusca veio em meio à crise do coronavírus. Mais tarde, no entanto, os fracos resultados da empresa levaram o papel a um novo recuo.

Um dos catalisadores da queda foi um relatório que apontava supostas irregularidades no balanço da empresa. Segundo análise da Squadra, a resseguradora teria inflacionado os lucros de 2019 em R$1,5 bilhão. Desde então, a notícia foi suficiente para justificar a primeira grande leva de shorts nas ações da empresa.

Em julho de 2020, então, a companhia divulgou lucro do primeiro trimestre 92% menor do que em 2019. Mais tarde, o Credit Suisse rebaixou o preço alvo do papel para R$ 7,50. Como consequência, a empresa chegou a perder R$ 2 bilhões em valor de mercado em dois dias. Em pouco tempo, a ação já valia conforme estimado pelo banco suíço.

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Paulo Alves
Sou jornalista e especialista, pela USP-SP, em Comunicação Digital. Já trabalhei em rádio e impresso, mas boa parte da minha experiência vem do online. Colaborei entre 2013 e 2021 com o Grupo Globo na área de tecnologia, onde já cobri assuntos diversos da área, de lançamentos de produtos aos principais ataques hackers dos últimos anos. Também já prestei consultoria em projetos do Banco Mundial e da ONU, entre outras instituições com foco em pesquisa científica. Entrei no mundo das...
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