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SatoshiTango: “Não tem como ficar fora do mercado brasileiro”

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Atualizado por Paulo Alves

EM RESUMO

  • Country manager da exchange explica a importância do Brasil no mercado de criptomoedas.
  • Guilherme Quintino já trabalhou na Ripple.
  • SatoshiTango planeja lançar um cartão em parceria com a Visa.
  • promo

A SatoshiTango é a mais nova exchange a chegar ao mercado brasileiro, abrindo ainda mais o leque de opções para o investidor do país que queira entrar no mundo das criptomoedas.

Isto ocorre porque “é impossível não vir para o Brasil”, diz o novo country manager da exchange argentina, Guilherme Quintino. Formado na Universidade de Westminster, em Londres, ele já trabalhou na Ripple e foi chamado pela SatoshiTango com a missão de ampliar a presença da empresa no país.

Com seis anos de existência, a SatoshiTango conta atualmente com 500.000 usuários ativos e já realizou mais de um milhão de operações. Segundo a empresa, mais de 7.500 de seus clientes melhoraram seus rendimentos com operações de Margin Trading.

Nesta conversa com o BeInCrypto, Quintino fala das expectativas da SatoshiTango no Brasil, os diferenciais da exchange e as perspectivas do mercado de Bitcoin no futuro.

A SatoshiTango é a mais nova exchange a se interessar pelo Brasil. Quais os fatores que influenciaram essa decisão e quais os diferenciais que o mercado brasileiro tem em relação ao de outros países?

“Devido a diversos fatores macroeconômicos, a SatoshiTango se tornou o maior player no mercado argentino e, claro, conforme o mercado de criptomoedas vem se consolidando, a expansão para outros mercados acaba sendo natural. Seguindo esse fluxo, você olha para o mercado chileno, depois no mercado peruano, depois no mercado brasileiro, onde estão economias já mais estabelecida, tanto no mercado cripto quanto no fiduciário, assim como um mercado de tecnologia que favoreça a entrada de novos players.

Quando você olha para o mercado brasileiro específico, e vê todo o trabalho que tem sido feito aqui, até mesmo pelo próprio Banco Central na modernização do sistema e com a entrada de novas legislações, o open banking e a introdução do Pix, percebe que este é um mercado de vanguarda. O próprio Ted é uma tecnologia existente aqui e que não existe em outros países, como os Estados Unidos, por exemplo.

Eu falo bastante do Pix que, embora não seja ligado diretamente ao mundo das criptomoedas, é um exemplo da vanguarda do mercado brasileiro e do processo de digitalização, que facilita a entrada de novos players. O próprio Banco Central está agindo para que as taxas de juros sejam cada vez menores e o beneficiado desse processo é o consumidor final, seja do mercado de criptomoedas ou do mercado tradicional.

E se você, como a SatoshiTango, está fora do Brasil, não há como não olhar para o sistema macroeconômico brasileiro, que está muito à frente do da Argentina, e não perceber que o país é uma referência da região. Também há a entrada de novas instituições financeiras e fintechs e olhando para tudo isso você percebe que não tem como ficar fora do mercado brasileiro.

No mercado de criptoativos também há mudanças, especialmente com a chegada da pandemia, que acelerou a digitalização do sistema bancário, o que também aumentou o número de investidores de criptomoedas e isso faz com que uma grande empresa da região tenha a obrigação de olhar para o mercado brasileiro.”

A Binance domina boa parte do mercado brasileiro. Quais os diferenciais que a SatoshiTango oferece e qual a estratégia para enfrentar essa dominância?

“Quando você faz seu cadastro na SatoshiTango, você percebe que a plataforma é muito fácil de usar e o nosso objetivo é justamente mostrar uma convergência de valor com aquele investidor que está entrando no mercado agora. Ele vai se sentir muito seguro, com uma linguagem no nosso site seja para fazer cadastro, para fazer a compra e venda de ativos, para enviar dinheiro para o exterior ou para fazer Margin Trading. E os nossos clientes nos valorizam por isso.

Quando você oferece tantas possibilidades, você confunde seu consumidor final em um mercado com tecnologia e metodologia que já tendem a ser disruptivos. Então, quando nós simplificamos este processo para o consumidor final, mais benéfico e seguro ele vai se sentir. Uma de nossas metas é simplificar e desmistificar as dificuldades que os investidores iniciantes têm.

Claro que nós temos novos produtos que estão sendo desenvolvidos de olho no mercado brasileiro. A SatoshiTango está participando do programa de aceleração da Visa, no qual já vencemos a etapa regional, o que nos garantiu uma parceria para oferecer cartões de débito ou pre-pago, não definimos ainda, para auxiliar nossos clientes nesse processo de desmistificação do mundo cripto e que eles possam usar suas criptomoedas para ruas compras no dia a dia, de acordo com a regulamentação do mercado brasileiro.”

A discussão sobre como regulamentar o mercado de cripto tem aumentado, com declarações constantes da SEC americana (o equivalente à CVM do Brasil) e a ideia de aprovar projetos de lei no Brasil. Como vocês percebem este processo e como pretendem se adaptar a ele?

“Ao contrário do que acontece no Brasil, a SEC já considera o Bitcoin como moeda e isso faz com que seja uma questão de tempo até que a regulação aconteça ao redor do mundo, seja utilizando como base a americana ou a japonesa – onde também já há regulação.

Existem mercados mais avançados que o brasileiro em que a criptomoeda não é mais considerada um simples ativo e sim uma moeda. Essa é uma discussão que já ocorre há pelo menos cinco anos e avançou ao ponto de termos legislações que reconhecem as particularidades de cada projeto – seja ele o Bitcoin, o Ethereum ou a Ripple.

No Brasil, nós temos vários avanços nesta questão. A própria Assembleia Legislativa está discutindo como a regulamentação terá de ser feita. A legislação de hoje considera criptomoedas como ativos financeiros, eles são reconhecidos assim pela Receita Federal quando há movimentações muito grandes de capital e já há uma maneira específica de fazer a declaração deles no imposto de renda. Isso significa que existe uma chancela do governo brasileiro em relação a isso. Esse mesmo entendimento é compartilhado em outros países da América Latina, como a Argentina, através da Receita Federal local.

Nós esperamos que exista uma regulamentação no Brasil a respeito da forma de entrada de uma pessoa do mundo fiat para o cripto. Pelo que nós observamos, ela deve seguir essa linha no país, definindo como o real fiduciário poderá ser trocado pela criptomoeda, além de aprofundar a questão da natureza das criptomoedas.

Quando a criptomoeda passar a ser aceita como moeda no mercado brasileiro, ela vai facilitar as transações internacionais, uma vez que você poderá aceitar como pagamento um criptoativo em vez de dólar.

E é interessante estar envolvido neste ambiente novo, até porque a tecnologia sempre vem antes da regulamentação, e o Brasil está na vanguarda da região, com a existência de tantos processos, tanto conduzidos pelo Banco Central ou pela CVM.

Você também tem um sandbox regulatório que foi liberado recentemente e é um ponto importantíssimo para um mercado, se somando à disrupção que possibilita que fintechs e empresas de criptomoedas façam projetos com o governo para ver como ele reage às regulações.

É algo fenomenal que está acontecendo no Brasil e que vai facilitar a entrada de novas empresas e de concorrência. E é por isso que eu disse antes: não tem como ficar fora do Brasil.”

Nós temos dois eventos opostos movimentando o mundo cripto nesta semana que são a adoção do Bitcoin como moeda em El Salvador e a proibição de criptomoedas na China. Como elas devem influenciar o mercado de criptomoedas no futuro?

“Esses anúncios sempre têm um impacto momentâneo muito forte, mas você precisa olhar as coisas a longo prazo. A China é um os primeiros países a anunciar sua moeda digital do banco central (CBDC), então quando você olha estes movimentos do governo daquele país, percebe que é mais uma questão hegemônica, até porque ele está sempre na vanguarda e se auto-beneficiando.

Por outro lado, quando você olha o governo de El Salvador, percebe que ele está se posicionando ao contrário e olhando as perspectivas da tecnologia, que é um caminho sem volta. O governo daquele país, que é um país pequeno, acaba fazendo movimentos estratégicos que beneficiem a população. Por que eles fizeram isso? Porque era a maneira que eles tinham, no momento, de trazer riqueza para o país.

É importantíssimo mas teremos desses posicionamentos, seja para um lado ou para outro. E você tem que perceber que, no caso da China, não há uma oposição à criptomoedas per se, e sim a criação de um cenário em que a moeda digital deles seja dominante da mesma forma que o dólar é dominante em todo o mundo hoje em dia. É um posicionamento para você se auto-beneficiar olhando para o mercado global do futuro, que vai ser totalmente digitalizado.

Para o ecossistema, quanto mais discussões houver nesse espectro, seja um lado ou para o outro, maior será a usabilidade e a sustentabilidade do mercado de criptomoedas sejam cada vez mais parte do nosso dia a dia.”

O próprio Brasil se prepara para lançar sua própria CBDC. Como ela pode influenciar os mercados e como as exchanges estão se preparando para receber esta novidade?

“É outra coisa que só vejo com bons olhos. O objetivo não é criar uma moeda que seja usada no trade e sim uma facilidade que vai dar robustês ao sistema de pagamentos brasileiro. Isto traz de volta a ideia do Pix e através dele e do real digital você consegue fazer uma transação internacional instantânea com qualquer país com mercado digitalizado através da internet, trazendo facilidades ao sistema e barateando o processo.

O Pix já é uma evolução deste processo e eu vejo o real digital como o próximo passo de atualização do sistema brasileiro. Quando você tem um sistema eficiente rodando, você tira a pressão inflacionária.”

Você se formou no Reino Unido e começou a vida profissional no mercado fiduciário. Como foi sua migração para o espaço cripto?

“Ter estudado no exterior me fez sempre estar em contato com tecnologias antes que elas se popularizassem. Por exemplo, em Londres, nós já usávamos o WhatsApp antes mesmo de ele ser conhecido no Brasil.

Eu sempre fui focado na questão financeira e de investimentos, transações entre moedas, bolsa de valores. Eu trabalhava como gerente de produtos no Banco Rendimento de uma plataforma que basicamente facilitava pagamentos internacionais. E nessa época – era cerca de 2015 – que o Bitcoin começou a decolar e as pessoas começaram a ficar mais familiarizadas sobre o que que eram criptomoedas.

E eu, que já trabalhava no mercado internacional, comecei a estudar mais aquele assunto e a própria blockchain, que para mim foi um casamento perfeito, até porque eu olhava aquilo e pensava “nossa, isso vai disruptar totalmente o mercado que eu trabalho! Nós temos que começar a nos adaptar por que é o futuro!”. Então eu comecei um processo de adaptação dentro do banco para que nós estivéssemos à frente da concorrência naquela época, mas ainda olhando para o mercado fiduciário.

Até que um dia, dentro das minhas pesquisas de mercado e das minhas viagens internacionais eu conheci a Ripple, que oferecia uma tecnologia que permitia aos bancos fazerem pagamentos internacionais com bastante benefícios tecnológicos para o banco. Então eu conheci o pessoal da Ripple e nós começamos um projeto gigantesco dentro do banco para acoplar nosso sistema ao deles e eu fiquei tão envolvido nesse processo que, quando a empresa abriu seu escritório no Brasil eu fui trabalhar com eles.

Foi assim que eu entrei de cabeça no mundo de criptomoedas. Dentro da Ripple, nós tínhamos vários projetos relacionados à criptomoedas, assim como toda uma questão de integração com bancos da América Latina – Brasil, Chile, Argentina, Peru, Colômbia – e eu estava diretamente envolvido com isso e com nosso relacionamento com o Bacen para que pudéssemos auxiliar no processo de regulação.

E foi aí que surgiu o convite da SatoshiTango para que eu assumisse a posição de country manager no Brasil e eu estudei o projeto e fiquei super encantado, ainda mais com todas as perspectivas do mercado brasileiro e do mercado mundial.”

Quais as dificuldades para atrair mais pessoas para o mercado de criptomoedas? É mais fácil chamar pessoas hoje em relação a antigamente?

“Hoje é bem mais fácil, sem dúvidas. Há um efeito cascata que quanto mais pessoas entram mais o mercado tende a ser mais acessível. Eu lembro de ter várias dificuldades no passado de convencer as pessoas no banco a aceitarem o meu projeto porque se você falasse de criptomoedas, todo mundo virava o olho, até por uma questão de compliance.

Já hoje, graças ao processo de desmistificação e de educação que tem sido feito de maneira geral, quando você explica os benefícios da tecnologia das criptomoedas e o quão revolucionário isso é para o mercado, não só pro mundo financeiro mas para as pessoas, porque isso traz toda uma nova diretriz, um novo mar de possibilidades, de tipos de investimentos, de transação, toda uma democratização.

E é interessante que o mercado cripto está tão consolidado que, olhando para o futuro, eu vejo as duas coisas caminhando juntas, sendo que no passado você tinha o mercado cripto separado do mercado físico.

E hoje você vê cada vez mais produtos financeiros baseados em criptomoedas, que mesclam conceitos do mundo fiduciário, com players já atuando dessa maneira no mercado brasileiro e não importa se esse player nasceu no mercado fiduciário e se moveu para o mercado cripto ou o contrário.

Essa integração é incrível e eu vejo que este é o caminho, com o próprio Bacen fazendo esse movimento. Não tem como ignorar isso. Quando você tem o Banco Central do país apoiando isso, é mais fácil mostrar para os novos clientes o quanto eles podem se beneficiar disso.”

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Júlia V. Kurtz
Editora-chefe do BeInCrypto Brasil. Jornalista de dados com formação pelo Knight Center for Journalism in the Americas da Universidade do Texas, possui 10 anos de experiência na cobertura de tecnologia pela Globo e, agora, está se aventurando pelo mundo cripto. Tem passagens na Gazeta do Povo e no Portal UOL.
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